"Caminho certo para seu crescimento pessoal e profissional"

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É impossível dizer alguém que caminho seguir. Somente você, com tranquilidade e humildade, pode ouvir a pequena voz dentro de você. Aquela "vozinha" sussurra um sonho...o seu sonho. Sucesso e felicidade não são metas distantes de serem capturadas e mantidas. Acontecem enquanto você está se realizando.

(do livro Ah, se eu soubesse... Richard Edler)

 

 

 

A EMPRESA FAMILIAR  

  Nelson Lambert de Andrade

Professor  da ASMEC e UNIVÁS

 

Resumo

 

O artigo analisa as relações de poder e os discursos do patriarca no âmbito organizacional. Para tanto, procurou-se extrapolar as limitações das abordagens que defendem  a soberania do poder, a adoção das concepções de  poder relacional e que permitem reconhecer  efeitos nas relações e interações entre indivíduos de uma família. 

 

Palavras chave:  empresa familiar, organização, poder.

 

Abstract

This article deals the power relationship and the father’s discourse and the applications on the organizational field, beyond the sovereignty power’s theories, adopting, in the other hand, the concept of relational power. This approach permits to recognize its effects and the relationship among individuals. As well, the article analyses the practices and discourses between those who detain the power and those who look for a job. 

 

Keywords: organization, corporations, power, family company

 

Introdução.

Estamos no século XXI – uma era histórica para a humanidade com profundas transformações sócias, econômicas e tecnológicas.

Na área ambiental, todos estão voltados para a equação da sobrevivência da humanidade. É difícil prever como estarão as exigências nessa área para os próximos anos.

Provavelmente as exigências de hoje serão multiplicadas, como vem acontecendo desde a conferência RIO 92. Este novo custo incorporado à gestão administrativa tende a tornar-se cada vez maior.

A sociedade cada vez mais está voltada ao consumo nunca visto na história da humanidade, e a perspectiva é de que cada vez mais estará dependente da mídia, em razão da globalização que condena o homem a esta submissão.

Na empresa familiar acresce as peculiaridades inerentes às famílias dos proprietários destas empresas à semelhança dos ecologistas há um sem número de Administradores que começam a estudar as peculiaridades existentes nesse tipo de negócio, bem como as dificuldades para que elas se profissionalizem e se perenizem eliminando as diferenças e vaidades pessoais, pois segundo Michel Porter “nenhuma organização pode ousar entrar ou permanecer no mercado competitivo sem uma definição clara de como se posicionar em seu setor de atuação, ou seja, sem ter estratégias definidas. Sem isso estarão fadadas a desaparecer”.

Geralmente, a maioria das empresas familiares tem sua origem pela iniciativa de um empreendedor, autodidata, que de uma forma solitária empreendeu um negócio, inicialmente destinado ao sustento de uma família.

Seu início costuma ser difícil, de muita abnegação ao trabalho em detrimento do lazer e da família; entre erros e acertos, nosso herói se supera e vence continuando o negócio.

Dessa forma, “a cara” do negócio passa a refletir a personalidade do seu fundador, esse modelo deve ser adotado por todos os colaboradores da empresa, sejam eles pertencentes à família ou não.

Assim, na geração do fundador a empresa é muito pessoal e não familiar, havendo entre o fundador e seus colaboradores uma relação muito próxima e pessoal, que na segunda geração virá a desatar essas relações.

Muitos destes empreendimentos poderão ter uma vida longa, pois a forma de administrá-los tem a marca e o controle de seu fundador. Para exemplificar podemos citar as Casas Bahia, onde as decisões continuam a ser tomadas pelo patriarca da família, Samuel Klein, apesar de seu filho Michel ser o superintendente da rede.

Algumas vezes, com o passar dos anos o fundador reconhece que seu instinto empreendedor já não é o mesmo de outrora, entretanto raramente permite mudanças em sua forma de administrar e, muitas vezes, se defende afirmando: “suas sugestões parecem adequadas, mas... o patrão, aqui, sou eu...” “foi administrando assim que fiz fortuna”.

Geralmente esse embate ocorre entre os membros da própria família. Esse discurso nos permite entender, sem julgar, que o dito é ao mesmo tem volátil,  é o nada que diz tudo carregado de ideologias do patriarca que nos parecem naturais se remetermos ao esforço individual e solitário do empreendedor para ocupar seu espaço no mercado, desta forma o fundador acaba tendo pontos de referência definidos em seu discurso diário.

Foi o que aconteceu com a família Diniz, quando Abílio vendeu a metade do controle acionário do Pão de Açúcar ao grupo francês Casino, por US$ 900 milhões. Apesar da soma vultosa, Abílio somente fechou a venda por poder continuar sentado na cadeira da presidência. “Eu abro mão de dinheiro, forma de pagamento, mas sou inflexível nesse ponto”.

A partir dessa negociação Abílio continua a praticar um dos seus esportes preferidos – o trabalho – e resolve uma preocupação antiga, que é a profissionalização da empresa e deixar a família Diniz cada vez mais longe do dia-a-dia. “Só fiz o negócio porque ele me permitiu trabalhar enquanto eu quiser. É o que mais gosto de fazer, é o que eu sei fazer bem”, sentencia Abílio em entrevista à Época Negócios em 9 de maio de 2005.

Crise de gerações rotulam alguns, mas na verdade o que ocorre é o esmorecimento do fundador, outrora arrojado e destemido, hoje cauteloso e medroso em relação às mudanças, principalmente aquelas que tiram “o controle do negócio”, e que sob sua ótica, essas poderão colocar em risco todo o patrimônio amealhado com muito suor.

Com essa atitude o empreendimento que poderia continuar crescendo, se estagna e aquele ímpeto desbravador do início do empreendimento desaparece.

Pensando o poder e as relações familiares

Os estudos acerca do poder, suas relações e efeitos no âmbito das organizações e, mais especificamente, relativos ao comportamento organizacional, abrangem temáticas instigantes e polêmicas, que envolvem, entre outros elementos, a subjetividade, o conflito, a dominação, adesões e resistências no processo de gestão de pessoas.

Nesse contexto, as empresas familiares se inserem, ao representar também essas dimensões organizacionais, perpassadas pelas relações de poder, cuja análise deve ir além da simples polarização entre as pessoas, em que o gestor na organização é representado, geralmente, pelo chefe da família que desempenha um papel de mais “dominador” em ambas posições, e o colaborador na organização, representado simbolicamente na condição de um membro da família, tal como filho (a), genro, nora, cunhado (a), etc. que termina  atuando e colocando-se na posição de como “dominado”.

Também há que se considerar  para o funcionamento das organizações – de oficinas de consertos às empresas montadoras, forças políticas ou governos – a relevância do desenho de suas estruturas (organograma).

Tais estruturas  permitem a ampliação das interpretações que são dadas às diferentes possibilidades de interação entre os diversos níveis de poder, de acordo com as regras vigentes, nos respectivos espaços organizacionais em que são percebidas e admitem que as modificações na pirâmide de consumo dos hábitos dos clientes e condições de vida da população, permeadas por inovações tecnológicas e pelo desenvolvimento e mobilidade vertical dos sujeitos da organização, sejam inseridas nas análises das relações de poder das organizações familiares.

Contudo, na empresa familiar, essas relações de poder ultrapassam os muros da empresa, continuando no seio familiar que acabam gerando conflitos entre os membros daquela família na Organização.

São os efeitos da síndrome do travesseiro interferindo no dia-a-dia da empresa familiar, oriunda das relações entre os familiares no dia seguinte a conversas  entre familiares em residências diferentes, ocasião em que, as esposas ou esposos influenciam seus cônjuges a decidires determinado assunto em beneficio próprio. Esse vício que, muitas vezes consagra e se pratica em diversas empresas familiares, é o que leva as diversas famílias a interpretar que a empresa deve resolver todos os seus problemas pessoais, daí ser muito importante desvincular as conversas de travesseiro .

Nesse ambiente complexo e dinâmico, muitas vezes de vaidades e invejas, de competição bastante acirrada com uma dose elevada de adrenalina se destaca um sujeito hábil em soluções estratégicas e em gestão participativa, apesar dos participantes da família advindos de diferentes especializações, parecem adotar para seus departamentos o tipo de Organização baseado na Adhocracia[1]: “uma estrutura com pouca formalização do comportamento; sua especialização do trabalho é altamente horizontalizada; adota a descentralização seletiva das equipes localizadas em vários pontos da organização, envolvendo os grupos formados por um líder”, segundo Mintzberg (2003:11).

Além disso, percebe-se a construção de novos conhecimentos a partir do desenvolvimento pessoal de algum membro da família a partir de incursões no mercado de trabalho, adquirindo novas experiências, a fim de profissionalizar a gestão em uma busca que expõe o dia-a-dia da batalha que se trava internamente na empresa, não somente pela perenização do negócio, mas principalmente pela busca incessante em atender às especificações do cliente, fidelizando-o, em conseqüência. O que é bastante desejável.

Sair da condição de mero coadjuvante, no caso do filho ou filha do patriarca empreendedor, para adotar uma postura de observação e análise ao que está sendo praticado no mercado, proporciona algo como empatia para quem deseja permanecer crescendo e fidelizando a clientela.

Certamente é uma experiência nova e bastante instigante colocar o herdeiro na posição de aprendiz com a responsabilidade de, mais tarde, melhorar aquilo que estava sendo administrado, intuitivamente, há anos. 

Devemos exercitar algumas vezes nos colocando imaginariamente no centro do proscênio, nos constituindo como aquele patriarca que um dia teve um sonho e partiu para realizá-lo, desejoso de vencer, sustentar a família e gerar riquezas,  pois quando o assunto é empreendedorismo passa necessariamente pela  ansiedade por posição social, no caso um sonho em realizar seu próprio negócio, que se inicia com um trabalho diuturno a partir da crença em sua capacidade de trabalho e muita vontade para vencer as adversidades.

 

O nascimento da empresa familiar

Normalmente estamos acostumados a ouvir os mais diversos tipos de estórias e histórias de como as empresas começaram, “sou imigrante e vim pra cá a fim de ser um empresário, inicialmente trabalhei duro, abri um bar, depois de muito poupar, vendi o bar e comprei uma padaria e depois do mesmo processo, um posto de combustíveis”.

 A rede Sete Estrelas, hoje com mais de 100 postos de combustíveis, começou com um café na rodoviária de Jacareí, em São Paulo. A família, comandada pela matriarca, e composta pelo marido e mais três filhos, todos trabalhando no empreendimento.

Muitas vezes as empresas familiares crescem tirando proveito de bons acordos e negociações, fruto da habilidade individual do fundador, em um segmento de mercado ou de uma solução inovadora, porém o mais importante é que o negócio se perenize e passe para a próxima geração.

Fatores ambientais podem ser identificados como influenciadores para a fundação de uma nova empresa, além dos fatores macro econômicos como níveis de gastos de consumidores, renda disponível e eventualmente taxas de inflação, podem resultar em oportunidades de novos empreendimentos, e conseqüentemente abertura de uma nova empresa.

Nos livros há um sem número de sugestões e de estilos de personalidades associados à fundação de uma empresa. Estes fatores são agrupados em forças que motivam àqueles que possuem disposição para empreender, ou ainda eventos como o desemprego que levam o empreendedor à necessidade de iniciar um negócio para sobreviver, ou ainda forças que alavacam a vontade de empreender a partir das condições econômicas e ambientais que tornam atraente uma nova empresa.

Duas motivações, provavelmente têm um impacto duradouro sobre as empresas criadas. A primeira se inicia na vontade de ser dono, patrão ao invés de empregado, colocando na prática um sonho acalentado há anos. A segunda motivação é o desejo de se encontrar uma oportunidade e explorá-la, pois da mesma forma que alguns fundadores são afastados de sua terra natal ou de seus empregos pela falta de oportunidades são igualmente atraídos para os desafios e estímulos que um novo empreendimento pode proporcionar.

 

 

O empreendimento familiar

Apesar de muitos acreditarem que família e empresa, quando reunidas, tendem a reduzir reciprocamente a sua eficiência, existem muitas empresas familiares bem sucedidas e, ainda, apesar da concorrência imposta pela globalização da economia e da necessidade cada vez maior da profissionalização as famílias que dirigem empresas no nosso País continuam a prosperar; essa afirmativa é resultado de um estudo do Sebrae, segundo o qual o número de empresas familiares deve dobrar a cada 10 anos, passando dos atuais 5 milhões para 10 milhões em 2015. Segundo a revista Exame, dos 500 maiores grupos do país, aproximadamente 200 são estatais ou filiais de multinacionais, 280 são empresas familiares que respondem por um patrimônio de 46 bilhões de dólares, e o restante, cerca de 20, são fundações ou cooperativas.

Segundo Lodi, “uma empresa familiar é aquela que tem sua origem e sua história vinculada a uma família, aquela que mantém seus membros na administração do negócio”, à semelhança do que vimos acima com o grupo Pão de Açúcar, tradicional empresa familiar, fundada em 1948 por Valentim Santos Diniz (pai de Abílio), em São Paulo.

A trajetória da grande maioria empresa familiar apresenta pontos fracos, quando comparada com empresas profissionalizadas:     

·        Conflitos de interesse entre família e empresa, notadamente a partir da segunda geração, e que se refletem na descapitalização, na indisciplina, na utilização dos recursos da empresa para fins particulares. E como diz Lodi, “o famoso complexo da galinha dos ovos de ouro”.

·        Favoritismo aos parentes sem competência para ocupar posições geralmente de comando.

·        Inexistência de planejamento estratégico e organização formal.

·        A síndrome do efeito travesseiro, que as esposas inoculam durante a noite e que tem seu efeito devastador no dia seguinte.

 

Lodi vai dizer que não obstante existirem pontos fracos em uma organização familiar, existem inúmeros pontos fortes:

  • “A lealdade dos empregados é mais acentuada na empresa familiar...”

  • “O nome da família pode ter grande reputação no estado, ou no país inteiro, funcionando como uma cobertura econômica e política”. O nomes às vezes pode ser tão influente a ponto de poder alavancar grandes e vultuosos empréstimos.

  • “A continuidade da administração. A sucessão de familiares competentes na direção dos negócios dá origem a um respeito pela empresa”.A Votorantin é um exemplo.

  • “A união entre acionistas e dirigentes” geralmente pais e filhos ou sogros e genros facilitando a comunicação entre os órgãos volitivos e diretivos.

  • “O sistema de decisão geralmente é mais rápido” e informal, pois independe de longas e demoradas reuniões.

  • “Sensibilidade social e política do grupo familiar dirigente cria raízes na elite nacional, a influencia e é por ela alimentado de informações. Perfeita permeabilidade de influências aos interesses nacionais e regionais”. Há exemplos inúmeros em nossa economia.

  • “As gerações familiares em sucessão permitindo um traço de união entre o passado e o futuro, entre os valores do fundador e as vocações e visões pessoais dos dirigentes atuais”.

A sucessão na empresa familiar

              Remetendo-nos às relações do poder e as relações organizacionais e os estudos acerca do poder, suas relações e efeitos no âmbito das organizações e, mais especificamente, relativos ao comportamento da organização empresarial e familiar, que também contemplam situações muito instigantes e polêmicas, por envolver, entre outros elementos, a subjetividade, o conflito, a dominação, adesões, lideranças e resistências no processo de gestão de pessoas.

Aconteceu, no Pão de Açúcar, o processo de sucessão começou com a profissionalização da empresa, com a indicação de profissionais de renome para sua Administração, mas a passagem nunca ocorreu de fato em razão da dificuldade de Abílio Diniz abandonar a rotina da empresa, chegou até a desocupar a presidência, ocupando uma sala particular, mas nunca conseguiu deixar a mesa que ocupava no salão da diretoria.

Esse procedimento é muito comum aos empreendedores familiares que normalmente não descansam, mesmo quando em viagem de carro sempre param no caminho para visitar filiais.

Numa outra alternativa, preteriu a filha, que vinha se preparando para assumir a empresa, inclusive com curso no exterior.

           O pior dos conflitos que infestam a empresa familiar, o conflito na fase de sucessão abala a estrutura da família em razão das disputas internas, a rivalidade entre seus membros de acentua e em alguns casos as famílias e as empresas sofrem cisões irreparáveis

Lodi ensina que, apesar da rivalidade entre os familiares, é possível proceder a reestruturação da empresa em cinco passos:

1.      “Toda crise sucessória está assentada num conflito edipiano entre pai e filho, onde os problemas da carreira do filho, os problemas de planejamento e de organização da empresa, as decisões de novos produtos e investimentos servem de palco para o drama. O Filho deve ter habilidade para aceitar a rivalidade do pai, desenvolvendo a sua própria personalidade, seja perto ou longe da figura paterna. O pai deve ter consciência de quanto os seus problemas existenciais deformam a sua visão do filho, de quanto a sua necessidade de afirmação pode recrudescer a sua autocracia. Todo fundador e pai é autocrata por definição”.

2.      “A família precisa entender que os parentes não são os melhores sócios. A família precisa ser levada a compreender e respeitar a empresa abandonando pressões para empregar parentes incompetentes ou despreparados e evitando descapitalizar a empresa pelo uso indevido do seu patrimônio.A família reunida em um conselho de família, deve ajudar  os seus membros que trabalham na empresa a desenvolverem uma lealdade à empresa. Nas melhores dinastias empresariais brasileiras há um código de relações entre a família e a empresa. O que se propõe não é afastar a família, mas desenvolver um nepotismo profissional e esclarecido”

3.      “A sucessão deve ser olhada do ponto de vista do principal executivo, que geralmente é o pai. Uma das perguntas é: você empregaria seu filho? Essa questão deve estar presente há muito tempo, bem antes do filho procurar a universidade, o que quando ocorrer, deve ser para uma profissão compatível com o perfil dele e com o perfil da empresa. Essa congruência deve ser encontrada após ele definir a profissão a seguir. A segunda pergunta importante para o pai: o que fazer com o velho pai, como se dará a retirada?”

4.      “Deve-se ver a sucessão do ponto de vista do sucessor. Quando o verdadeiro emprego é ser filho ou genro , é impossível sucessor ao fundador. Aqui é importante retroceder 20 anos ou planejar 20 anos na frente. Como os filhos foram criados? Que código de ética foi desenvolvido? Em que foram treinados? Que treinamentos tiveram na empresa ou fora dela? Que equipe os cerca?. Como conduzir a sucessão quando o pai hesita em deixar o poder?”.

5.      “A empresa familiar necessita saber como usar uma consultoria. A necessidade de profissionalização, conduz na direção de uma consultoria externa. A consultoria torna-se um problema para a empresa familiar, por três motivos: quando se contrata um consultor errado, quando a direção transfere ao consultor a responsabilidade pela definição das soluções e quando o consultor interfere no dia-a-dia dos familiares deixando o profissionalismo de lado”.

Em consultoria há dois axiomas muito conhecidos: é o cliente quem deve escolher a alternativa para solucionar os problemas. Cabe ao consultor apenas e tão somente elencar as alternativas a serem decididas pelo tomador do serviço. Não nos cabe superestimar nossos  feitos, nem subestimar os dos outros, devemos antes de qualquer coisa, estabelecer uma autocrítica, para avaliar o quanto estamos sendo úteis a nós mesmos e as nossas empresas.

Uma das alternativas que temos usado, com razoável sucesso, em nossas consultorias é adotar o Conselho de Herdeiros, um órgão extra-organizacional, uma espécie de elo de ligação entre a família proprietária e a empresa, que passa a existir a partir das reuniões formais na empresa, e não que não existe na estrutura formal da empresa. Funciona à semelhança   do Conselho Fiscal em uma sociedade anônima.

O fato é que qualquer transição na empresa familiar é traumatizante para o empresário, por entregar os rumos da empresa a outra pessoa, descontentado outros familiares que aspiraram a posição em longos almoços de domingo ou viagens de lazer. Entretanto essa decisão deve ser tomada no momento necessário e o fundador e seu sucessor deve ser coerente para perenizar o empreendimento.   

Dito de outra forma, alguns  dos descendentes dos fundadores raramente conseguiram ter o talento empresarial de seus pais ou avós. Poucos Matarazzos, substituíram o Conde Francisco Matarazzo, na famosa Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo – IRFM, que nas mãos de seus filhos, não agüentam mais do que 15 anos após a sua morte. Talvez esse insucesso tenha sido fruto da autocracia do Conde, que não se permitiu retirar da empresa antes da sua morte.

 

Considerações finais

As empresas familiares fazem parte da grande maioria dos pequenos e médios negócios de nosso país, gerando empregos e garantindo o crescimento econômico. Nas economias capitalistas a maioria das empresas se inicia com as idéias, o empenho e o investimento de indivíduos empreendedores e seus parentes mais próximos.

Muitas vezes elas crescem tirando proveito de bons acordos, de um segmento de mercado especifico ou de uma nova solução para um determinado problema, porém o mais importante é que este crescimento se perpetue passando para uma próxima geração.

Fazer com que um empreendimento empresarial tenha sucesso e depois passar de pais para filhos e netos não é apenas uma projeção sonhadora. O sucesso e a continuidade das empresas familiares são o sonho para grande parte da população do mundo.

 Nem sempre os herdeiros estão preparados, ou se profissionalizam  para assumir, com competência,  o empreendimento, e uma solução viável para esse problema muito provavelmente, seria o processo de profissionalização e adoção de uma administração profissional recrutada no mercado.

O processo de sucessão e profissionalização certamente continuará a ser um dos grandes impasses para as empresas familiares nos próximos anos. Isso faz com que estudos continuem a serem mobilizados para um melhor entendimento deste fenômeno, produzindo trabalhos que contribuam também para a Administração e a perenização das empresas familiares, pois no mercado ou se cresce ou se morre. 

 

BIBLIOGRAFIA:

LODI, João Bosco. A empresa familiar, Pioneira, 3ªed: São Paulo: 1986.

MINTZBERG, Henry. Criando organizações eficazes, Atlas: São Paulo: 2003.

PORTER, M.E. Estratégia Competitiva: técnicas para análise de indústrias e concorrência. Campus: Rio de Janeiro: 1986.

 


[1] Tomando por empréstimo a palavra que Alvim Tofler popularizou em seu livro Choque do Futuro.

 

   Nelson Lambert

   Professor Universitário e Consultor de Empresas

   n.lambert@uol.com.br 

 

“A educação é um processo de vida e não uma preparação para a vida futura. E a escola deve representar a vida presente" (Jonhn Dewey, 1897)

 

 

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