O jeitinho brasileiro é positivo!
Prof. Nelson Lambert de Andrade
Já
estava pensando nesse tema o para nosso jornal, por dizer
respeito à crença de que o jeitinho é negativo. Logo,
quando li uma reportagem dizendo sobre o movimento de
entregas de declarações de imposto de renda,
imediatamente, liguei fatos relacionados à proposta de
pensar nessa ideologia com o assunto da reportagem que é o
velho jeito que o brasileiro tem de driblar as dificuldades,
a capacidade de "levar vantagem em tudo", que
gerou o que
ficou conhecido como a “Lei do Gerson”, a partir de uma
propaganda de uma marca de cigarro.
Essa
frase virou sinônimo do típico jeitinho brasileiro de
querer sempre se dar bem, de driblar a dificuldade e superar
as dificuldades do dia-a-dia. Pareceu-me que isso não é de
todo negativo ou pejorativo, quando demonstra uma certa
criatividade para superar os obstáculos, embora já tenha
sido ideologicamente cunhado como negativo.
Para
nossa reflexão inicial tomemos o texto da Folha de S.
Paulo, 30 abr. 2006, do jornalista Marcos Cézari, que
afirma:
Receita
espera 1 mi de declarações atrasadas Além
dos 22,01 milhões de declarações do Imposto de Renda
deste ano entregues no prazo -até sexta-feira, às 20h-, a
Receita Federal ainda espera receber cerca de 1 milhão
delas com atraso até fevereiro do ano que vem.Essa previsão,
feita na sexta-feira pelo supervisor nacional do IR, Joaquim
Adir, toma por base o 1,078 milhão de contribuintes que
entregaram as declarações de 2005 com atraso, entre maio
do ano passado e fevereiro deste ano.
Esse universo de 1 milhão de contribuintes representa pouco
mais de 4,5% dos 22 milhões que entregaram no prazo.Os
retardatários vão engordar um pouco mais os cofres da
Receita. É que quem entregar a partir das 8h da próxima
terça-feira, dia 2 de maio, quando o sistema de recepção
da Receita volta a funcionar, terá de arcar com a multa mínima
de R$ 165,74.Assim, a Receita receberá R$ 165,74 milhões,
no mínimo. Esse valor poderá ser maior, uma vez que a
multa é de 1% ao mês sobre o imposto devido, ainda que já
pago. A multa máxima é de 20% do imposto a pagar, no exercício.
Como
se observa pela notícia do Jornalista, apenas cerca de 4,5
% deixaram de fazer a declaração do imposto de
renda no prazo previsto, isto é, 28 de abril; não
obstante, boa parte tenha deixado para os últimos dias.
Dentre
esses quase um milhão de contribuintes que, aparentemente,
deixaram de cumprir o prazo, certamente, incluímos os
enfermos, os em viagem ao exterior, os que tiveram salários/rendimentos
achatados, ficando isentos e até os falecidos durante o ano
base de 2005, o
que parece significar que o brasileiro está abandonando
aquela característica de dar um jeitinho em tudo,
procrastinando e contemporizando suas obrigações, não
lhes dando solução.
A revista VOCE SA, nov. 2002, numero 53, em uma de suas
reportagens, diz que o
jeitinho brasileiro
não tem nada a ver com a lei de Gérson, mas com a
capacidade de adaptação que os profissionais brasileiros têm
para dar e vender.
Essa é a conclusão de um estudo do professor Roberto Coda,
da FEA/USP que pesquisou durante três anos, 4 500
profissionais de vendas
em todo o país, em que responderam a questionários
sobre suas reações diante de situações do dia-a-dia. Um
expressivo número.
Cerca de 2 000 deles perceberam que a flexibilidade e a
capacidade de negociação são características individuais
que auxiliam nas vendas. Esse comportamento também pode ser
observado em outras áreas da empresa, marcantes pela aversão
à leitura e à normalização dos procedimentos
preconizados nos manuais, preferindo a sua criatividade
bastante exaltada pelos gestores, que aqui chegavam no século
passado.
Apesar
de entender haver uma tênue linha entre o uso da
criatividade e a adoção do método preconizado no jeitinho
brasileiro, em seus aspectos negativos, às vezes, temos a
tendência de dar razão ao sonegador de impostos. Por
exemplo , colocando-os como vítimas de um governo, que não
devolve em serviços ao contribuinte o devido valor pago em
impostos e taxas.
Daí
reclamamos muito da alta carga tributária que pagamos ao
governo, justificando assim a sonegação exatamente por
isso. Por outro lado, certamente se não houvesse a sonegação
poderíamos, quem sabe, pagar menos tributos.
Logo,
essa aversão aos cumprimentos de normas e leis, passou a
ser considerada como uma vantagem competitiva do trabalhador
brasileiro.
O
fundamento teórico do estudo de Coda, segundo o veículo
citado, “é o trabalho do psicólogo alemão Erich Fromm
(1900-1980), que definiu quatro características de
personalidade: acumuladora, exploradora, mercantil e
receptiva. Com exceção da última, Coda mudou a
nomenclatura de Fromm e adaptou os princípios de sua teoria
ao universo do trabalho”.
O
método, batizado de Diagnóstico M.A.R.E de Orientações
Motivacionais, mapeou quatro estilos de trabalhador:
“mediador, analítico, receptivo e empreendedor”, que dão
origem à sigla, que não cabe aqui descrever para
o perfil dos profissionais de vendas.
Finalizando, gostaria de fazer uma pergunta ao prezado
leitor que lê, avaliando este texto: será que você sabe o
que é o jeitinho brasileiro? Por favor, dê sua resposta
para o e-mail n.lambert@tcnet.com.br
e eu he ficarei grato,
lembrando que “sobre o mesmo fato há mais de um ponto de
vista
Nelson Lambert
Professor Universitário e Consultor de Empresas
n.lambert@uol.com.br
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